sábado, 20 de dezembro de 2008

Capítulo 2 - Amizades

Meses se passaram depois daquela estranha noite. Todas as madrugadas o garoto escutava as tais vozes, que o ensinavam diversas coisas estranhas e tenebrosas. Ele se sentia diferente agora. Sentia-se mais forte e inteligente e com isso, seria capaz de mudar o ambiente ao seu redor. Primeiro passo: Começar a se defender.
Um novo ano iniciava-se e muitas crianças novas entraram na escola vindas de outras cidades. Mortis entrou em sua sala e sentou-se na última carteira no canto da sala como de costume. Ficou observando os colegas de sala já conhecidos e depois começou a olhar os novos. Não viu nada de interessante, apenas uma garota com longos cabelos loiros presos em uma trança. Olhos azuis e aparentava um jeito tímido de ser, pois apenas observava os outros de maneira acanhada. Mortis a ficou observando por um tempo, até que foi surpreendido por uma voz ao seu lado dizendo: “Eu também a achei bem bonita.”
Mortis olhou para o lado surpreso e viu um garoto sentado na cadeira do lado. Olhos negros e um cabelo curto preto. Ele olhava para a mesma garota que Mortis observava. O garoto depois olha para Mortis, que agora olhava para frente. O garoto então diz: “Andei observando os outros garotos dessa sala e só vi idiotas. Você parece ser um cara interessante, começando com a sua aparência avermelhada, mas isso não é problema, para falar a verdade é bem legal até.”
Mortis olhou para o garoto surpreso. Era a primeira pessoa da escola a não falar que ele era uma aberração ou algo do gênero. Mortis então perguntou num tom baixo: “Qual o seu nome?”
O garoto olhou para ele e disse:”Me chamo Lunion.”
Mortis: “Lunion! Bem, o meu nome é...”
Lunion: “Mortis, eu sei.”
Mortis ficou espantado. Ele pensou: “Ele não é um garoto qualquer. Quem será ele?”
Lunion num sorriso misterioso, diz: “Eu sei de muitas coisas. Caso você precise de respostas, sempre as encontrará ao vir até mim. Bem, agora prestemos atenção nessa aula pois ela aparenta ser bem interessante.”
Mortis ficou observando o garoto desconfiado, mas algo lhe dizia que ele poderia confiar nele.
Depois de algumas horas, um sino tocou dizendo a todos que a hora do lanche chegara. Todos se levantaram e se encaminharam para fora da sala. Mortis era sempre o último a sair. Ele começou a caminhar pelo corredor lotado de pessoas, querendo chegar ao pátio, onde poderia ficar mais a vontade sozinho. No meio do trajeto, ele esbarrou na pior pessoa que daria. Ele se virou para se desculpar, e deu de cara com Robert.
O grande garoto da um sorriso e diz: “Ora, quem temos aqui? Se não é o meu grande amigo Mortis. Estava te procurando baixinho. Temos um encontro no banheiro com o Jason e não podemos nos atrasar.”
Robert segura fortemente o braço de Mortis e começa a puxá-lo até o banheiro, mas logo para porque Mortis consegue se soltar.
O garoto de 13 anos se vira irritado para Mortis e diz: “O que pensa que está fazendo? Quer apanhar aqui mesmo?”
Mortis: “Dessa vez eu não vou. Estou cansado disso. Todo dia e sempre a mesma coisa. Vocês me batem e me humilham. De agora em diante, as coisas vão mudar, e não serei mais eu que irei chorar.”
Todos no corredor olham para ele, que disse isso bem alto. Encostada na parede estava à garota loira de sua sala, que ele estava observando. Ela ficou olhando para o pequeno garoto apreensiva com o que aconteceria com ele. Quando ela chegou ao colégio, a primeira pessoa que lhe chamou a atenção foi ele. Tanto pelo fato dele ter cabelo e olhos vermelhos, como também dele ficar sozinho e possuir uma expressão triste no olhar. Ela tinha um espírito muito bom, e sempre que podia, ajudava os outros a superar seus problemas e quando ela o viu, teve a vontade de ser sua amiga para ajudá-lo e ainda queria isso.
Uma roda se fez ao redor dos dois garotos e Robert agora se preparava para começar o que ele mais sabia fazer, brigar. Mortis apenas olhava para Robert num tom sério. Não estava com medo, nem triste. Estava determinado a acabar com aquela injustiça.
Robert se preparou para a investida, então ouviu uma voz atrás dele dizendo: “O seu grande escroto, porque não procura alguém do seu tamanho?”
Robert se virou curioso para saber quem serio o louco que falara isso para ele, e se deparou com Lunion.
O grande garoto olhou para o garoto de cabelos negros e diz: “Escuta aqui baixinho, você falou isso para mim?”
Lunion da um sorriso irônico e diz: “Ta vendo mais algum escroto por aqui?”
Todos começaram a rir, deixando Robert ainda mais irritado. Ele ergueu seu punho para bater no garoto insolente mas logo abaixou sua mão quando uma garota entrou na frente de Lunion. A mesma garota loira estava entre os garotos, então disse encarando Robert: “Deveria ter vergonha de querer bater neles. Você começou tudo isso, então é melhor você parar!”
Mortis ficou observando a garota admirado com tamanha coragem da pequena, ao se meter na frente de Robert.
Robert disse: “Escuta aqui, só porque você é menina, isso não vai me impedir de te bater.”
O garoto ergue seu punho mais uma vez, e o investe contra o rosto da garota, mas então algo acontece.
A garota tinha fechado seus olhos assustada esperando o soco, então nada acontece. Ela ouve algo cair, então abre um dos olhos, e vê Robert no chão, chorando com a mão no rosto. No chão, uma maçã se encontrava rachada ao meio. Todo mundo olhava uma garota de olhos azuis e cabelo preto que se encontrava perto da porta do banheiro feminino.
Lunion começou a olhar para Robert e então começou a rir.
Mortis olhou para a garota morena, que o olhava também. A garota loira abriu os dois olhos e deu uns passos para trás, até ficar do lado de Lunion, que ainda ria. Ela perguntou: “O que aconteceu?”
Lunion segurando o riso diz: “Aquela garota jogou uma maçã na cara do idiota. Foi lindo, pena que você perdeu.”
A doce garota diz: “Nossa, isso deve ter machucado.”
Lunion: “Vai ficar uma marca bem feia amanhã. Bem, você foi muito corajosa sabia?”
Garota: “Ahhhh, eu nunca gostei de injustiças. Não podia ficar parada vendo isso.”
Lunion: “Entendo. E a senhorita tem nome?”
Garota: “Me chamo Lúcia, prazer.”
Lunion: “O prazer é todo nosso. Me chamo Lunion e esse é meu amigo, Mortis.”
Mortis ainda olhava para a garota, que entrou no banheiro.
Alguém no final do corredor gritou que o diretor estava vindo, então o pânico foi geral. Todos saíram correndo para suas salas o mais rápido possível, deixando apenas Robert caído no chão e uma maçã feita aos pedaços.
Mortis, Lunion e Lúcia voltaram para sala e sentaram nas carteiras do fundo. Lunion diz: “Mortis, você deve se preparar, porque tenho certeza que ele tentará te pegar amanhã.”
Mortis: “Eu estarei preparado para quando ele vir.”
Lúcia indignada diz: “Mortis, você não pode brigar com ele. Você vai acabar se machucando.”
O garoto olha a garota preocupada sem entender muito a razão daquilo. Então, ele pergunta: “E que diferença faz? Se eu vivo ou se eu morro, as pessoas não ligam.”
Lúcia: “Lógico que ligam. Eu ligo, Lunion liga.”
Lunion: “Mesmo a gente não se conhecendo, não queremos o seu mal. Você é inocente, por isso deve ficar ileso nisso tudo. Há outras maneiras de resolver isso.”
Mortis olha para os dois, e depois de pensar um pouco diz: “Agradeço a preocupação, mas vocês não entendem. Apanhei dele durante um ano inteiro, e isso tem que acabar. Tudo o que eu sangrei, tudo o que eu apanhei irá voltar em dobro para ele...”
Lúcia: “Não diga isso!”
Lunion: “Você não pode desejar o mal para os outros. Isso sempre acaba voltando.”
Mortis se levanta irritado e diz: “Que todo o mal volte para mim, mas amanhã Robert chorará sangue e me pedirá perdão na frente de todos.”
O garoto sai andando, até se retirar da sala.
Lúcia fica preocupada e diz: “A gente precisa impedi-lo. Isso não vai dar certo.”
Lunion: “A raiva dele é justificável, mas concordo com você, que isso não irá dar certo. Mas só me responda uma coisa. Porque você está tão preocupada com o bem estar dele?”
Lúcia ficando um pouco vermelha diz encabulada: “Eu tenho pena dele. Ele parece ser alguém tão triste. Não gosto de ver ninguém assim, por isso eu faço o possível para ajuda-lo.”
Lunion: “Entendo e concordo. Vamos pensar então no que faremos a respeito disso.”
No corredor vazio Mortis caminhava sem rumo. Estava irritado. Em sua mente, pensava: “Eles não entendem o que eu sinto. Falar é fácil. Não sofreram como eu sofri. Mas amanhã, isso acabara. Colocarei aquele garoto arrogante no lugar dele. No chão, ou talvez embaixo dele.”
Mortis virou o corredor e se deparou frente a frente com a garota de cabelo preto que tacara a maçã em Robert.
Mortis ficou um tanto corado e logo deu alguns passos para trás, dizendo: “Sinto muito.”
A garota apenas olhava para ele. Era muito bonita. Os grandes olhos azuis escondiam o que havia por trás da aparência dócil da garota. Ela tinha se mudado para a casa de sua avó, pois seus pais haviam morrido de uma doença contagiosa. Isso abalou e muito a menina, transformando ela em alguém bem revoltada. Depois de se magoar muito, ela se tornou muito orgulhosa e egoísta. Tudo que ela queria ela conseguia, sendo por meios corretos ou por meios baixos e sujos. Por ser muito bonita, conseguia manipular as pessoas com extrema facilidade e se safar dos problemas. Para uma garota de nove anos, ela já era muito esperta e uma mestra em arranjar confusão.
A garota deu um sorrisinho para Mortis. Este ficando ainda mais vermelho abaixou o rosto e passou pela garota, mas logo parou quando ela disse: “Esse é o prêmio que eu mereço por ter salvado a sua pele daquele brutamonte?”
Mortis ainda de costas diz: “Ah, e o que tenho a te oferecer?”
A garota vai até ele e começa a passar o dedo nas costas do garoto, o deixando todo arrepiado. Em seguida, diz: “Primeiro, gostaria de saber o seu nome.”
O garoto ainda de costas responde: “Me chamo Mortis.”
A garota da um sorriso e depois fala: “Mortis, é um nome bem diferente. Bem, o meu nome é Suri.”
Mortis: “Ah, é um prazer te conhecer. Bem, agora eu tenho que ir.”
Mortis continuou a caminhar, mas logo chamaram sua atenção, dizendo: “Você não vai a lugar nenhum!”
Mortis e Suri se viraram, então viram Jason a uns dez metros de distância.
Suri: “Olha, o namorado do outro bundão.”
Jason olhou irritado para Suri, dizendo: “Eu sua pivete, é melhor você ficar de boca fechada, se não quiser se machucar.”
Suri: “Deixa de ser ridículo, garoto. Um lixo como você não relaria um dedo em mim, e sabe por quê?”
Jason curioso pergunta: “Ah é. Por quê?”
Suri abraça o braço de Mortis e diz: “Porque ele vai me proteger!”
Mortis da um pulo assustado.
Jason começa a rir e diz: “Esse meio quilo vai te proteger. Isso eu quero ver.”
Jason começa a correr na direção do casal. Mortis olha para Suri que agora estava atrás dele.
Ela diz: “Vai lá, xuxu. Pega ele!”
Mortis se vendo na obrigação de defender ele e a garota idiota, corre na direção do atacante.
Enquanto corria, ele se lembrou do que aprendeu com as vozes em sua mente.

O verdadeiro guerreiro não é aquele que sabe atacar
E sim aquele que sabe se defender
Preveja o ataque do inimigo
E contra ataque no ponto mais vulnerável de seu oponente
E a vitória te pertencerá


Jason ergueu seu punho e o investiu contra o rosto de Mortis. O pequeno garoto viu o soco vindo em sua direção, então se abaixou. O braço de jason passou por cima de sua cabeça. Mortis rapidamente procurou o ponto mais vulnerável do inimigo, e encontrou. As costelas. O garoto fechou seu punho com força e bateu brutalmente nas costelas de Jason. Seu punho se chocou fortemente contra o corpo de seu oponente, que logo após soltou um grito de dor e caiu no chão. Mortis pela primeira vez colocou o que aprendera em prática. Funcionara perfeitamente. Ele pode ver a fraqueza do inimigo, os movimentos. Esse era o início, e começara muito bem.
Jason estava chorando no chão com os braços abraçados em seu corpo. Talvez tivesse quebrado uma costela ou duas, mas isso não importava.
Suri dava pulos de felicidade e veio correndo na direção de Mortis, mas parou no meio do caminho e deu um chute em Jason, que gemeu de dor. A garota veio até Mortis e o abraçou, dizendo: “Você foi incrível. No começou eu achei que você fosse um fracote, mas estava enganada. Obrigado por me salvar.”
A garota da um beijo na bochecha do garoto, deixando ele extremamente corado e logo segura a mão dele, dizendo: “É melhor a gente sair daqui, porque logo vão ver o presunto no chão e vai sobrar pra gente.”
Os dois saem correndo e viram o corredor.
Em toda a sua vida, Mortis nunca fez sequer um amigo, nem conversou com ninguém, mas hoje havia sido diferente.As coisas mudaram. Onde só havia dor e sofrimento, agora talvez haja esperança para aproveitar os próximos anos de sua infância sombria. Para isso, terá apoio de seus novos conhecidos, que podem ser chamados de amigos. Os primeiros, mas que farão grande diferença na vida escura desse menino nascido para matar.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Capítulo 1 - Infância Sombria

Nove anos se passaram desde a trágica noite do nascimento de Mortis. Ele se tornara um garoto forte e inteligente. Morava com seu pai e não sabia quase nada sobre sua mãe. Seu pai o tratava com frieza e algumas vezes, com certo desprezo. Mortis era uma criança diferente. Tantos seus olhos quanto o seu cabelo liso que agora estava na altura do ombro eram vermelhos. Seu pai possuía cabelo e olhos pretos e sua mãe era loira. Seu pai dizia que ele era especial, por isso era diferente das outras crianças, mas isso não respondia as dúvidas do garoto. Certo dia, seu pai estava na sala lendo jornal e Mortis foi se aproximando devagar até chegar à frente de seu pai. O homem baixou um pouco o jornal e o encarou, logo dizendo: ”O que você quer?”
Mortis: “Pai, como a mamãe morreu?”
Pai: “De novo você me pergunta isso? Eu já disse milhares de vezes. Ela morreu de uma doença muito grave.”
Mortis: “Pai, você acha que ela iria gostar de mim?”
O homem dobra seu jornal e coloca uma mão no ombro do filho, o encarando de uma maneira ainda mais profunda que a anterior. Então, diz: “Ela não ia gostar de você!”
Mortis agora ficando com lágrima nos olhos abaixa o rosto e diz: “Porque papai?”
Homem: “Porque para ela você foi apenas um acidente e nada mais. Bem, agora que já respondi suas perguntas, vai fazer seus deveres de casa.”
As lágrimas escorrem pelo rosto do garoto que se retira para o seu quarto.
Os dias se passaram e nada melhorou na vida do pobre garoto. Em sua escola, as crianças zombavam dele e muitas vezes o batiam por ele ser diferente e em casa nunca tinha a atenção de seu pai, que na maioria das vezes estava bêbado, ou caso contrário apenas dizia palavras que o desanimava ainda mais.
As aulas terminaram e ele voltava para casa a pé. Virando a esquina se depara com dois rapazes de 13 anos cada, antigos conhecidos do garoto. Eram Robert e Jason, dois garotos que tinham como passa tempo caçoar e bater em Mortis. O garoto tenta mudar o caminho mas Jason já coloca a mão do ombro dele, dizendo: “Porque a pressa amigo. Até parece que não quer falar conosco.”
Mortis: “Eu esqueci uma coisa minha na escola e...”
Robert: “Serio! Deixa-me conferir se está faltando alguma coisa mesmo.”
Robert agarra a mala de Mortis e com força a arranca do garoto, e logo despeja seu material no chão.
Jason agora segura fortemente os braços do garoto, chegando ao ponto de machucá-lo.
Robert pega algumas moedas que caíram da mochila e coloca em seu bolso e da um sorriso para Mortis.
Jason solta o garoto e diz: “Valeu otário.”
Os dois garotos saem andando e rindo pela rua. Mortis começa a recolher seu material observando os dois garotos. Uma raiva fervorosa toma conta de seu ser. Seus olhos ficam lacrimejados de tamanha fúria. Ele aperta sua mão fortemente ao ponto de tremer. A face serena do garoto transformasse num rosto que transmite extremo ódio e rancor.
Logo os garotos somem de sua visão e aos poucos ele se acalma, mas logo se espanta. Há sangue em seus cadernos e em sua roupa e logo percebe que suas mãos estavam sangrando. Apertara sua mão a tal ponto de suas unhas cravarem em sua pele. Ele recolhe rápido o resto do material e sai correndo desesperado para casa.
Há dois quarteirões dali, Robert e Jason se deparam com o pai de Mortis.
O homem vem até eles e diz: “Vocês atormentam meu filho todo o dia, ao ponto de fazê-lo chorar de vez em quando. Ele os odeia.”
Robert e Jason param e olham para o homem, preparados para correr. Jason meio apreensivo diz: “Quem é seu filho senhor?”
Homem: “Mortis.”
Robert: “Senhor, é que...”
Homem: “Não diga mais nada! Vamos conversar como homens aqui. Iremos fazer um acordo.”
Jason: “Acordo?! Que tipo de acordo?”
O homem pega um saco de couro pequeno e joga para Robert, que o segura de maneira desajeitada. Ele desamarra o saco e olha, e logo se surpreende. Ele estende a mão e despeja moedas que estavam dentro do saco dado pelo pai de Mortis.
Os garotos olham o homem, que agora está com um sorriso no rosto.
Ele diz: “Nunca ganharam nada por atormentá-lo. Agora, pagarei a vocês para fazerem isso. Tirem ele do sério, batem nele, humilhem-no e tudo que seja necessário para tirá-lo do sério. Pagarei vocês todo o mês. Acham que podem fazer isso?”
Robert e Jason olham um para o outro sem acreditar naquela proposta indecente e logo apertam a mão do homem, fechando o trato.
Dia após dia, Mortis era perseguido e espancado pelos garotos. Diversos hematomas em todo o seu corpo e um corte em sua sobrancelha feito por um soco dado por Robert, fazia escorrer sangue pelo rosto do garoto. Mortis tinha sido levado até uma viela pelos garotos e se encontrava agora no chão, gemendo de dor e sangrando. A situação nunca chegara a tal ponto de fazer o pequeno garoto sangrar e isso deixava Jason um pouco preocupado.
Robert foi chutar Mortis no chão, mas foi interrompido por Jason, que disse: “Hei cara, vai com calma. Ele ta sangrando. Está bom por hoje, vamos embora agora.”
Robert: “Qual o seu problema, Jason? Ta com dó dele, é? A gente tem um trabalho pra fazer aqui, então não me interrompa!”
Jason: “Ele já está bem machucado. Espera ele se recuperar disso, ai outro dia a gente pega ele de novo. Não vai fazer loucura cara.”
Robert empurrou Jason para o lado e disse: “Se não vai ajudar, não me atrapalhe então. Cai fora!”
Jason olhou para Mortis, que o observava com o rosto úmido de sangue. Jason sentiu remorso ao olhar para o garoto, mas não iria mais participar daquilo. O garoto se vira e sai correndo da viela, deixando Robert ir além com aquela crueldade.
Robert se vira para olhar se ninguém estaria observando o que se passaria logo adiante. Quando se volta para Mortis, se espanta ao ver o menino de pé, com a cabeça baixa. Gostas de sangue caiam de seu queixo.
Robert diz num tom irônico: “Fico surpreso que ainda consiga ficar de pé depois de ter apanhado tudo o que você apanhou. Mas aproveite esses momentos, porque você voltará para o chão.”
Robert avança na direção de Mortis, então este diz: “Acha engraçado me fazer sofrer?”
Robert para sua investida com o punho erguido para responder a pergunta do garoto. Ele responde: “Moleque, você é uma aberração. Você não é normal, então não merece ser tratado como alguém normal. Irei te bater até você sair da escola e se mudar desse bairro. Você é uma vergonha. Por isso, se você não se mudar, você vai sofrer, entendeu?!”
Mortis: “Então, eu sou uma aberração.Eu não sou uma criança normal e nunca vou ser. Papai sempre disse isso pra mim.”
Mortis começou a chorar agora. As lágrimas se misturaram com o sangue, formando um elo de dor e sofrimento. Robert olhou para a fraqueza do garoto, e logo perdeu o ânimo de bater nele. No fundo, estava com dó do garoto, mas não podia demonstrar fraqueza. O garoto se virou e saiu caminhando, então disse: “Amanhã a gente se vê.”
Mortis ficou mais alguns minutos lá na viela chorando. Depois se levantou e voltou para casa. Chegando lá, teve que escutar seu pai gritar com ele, brigando por ter deixado os garotos terem batido nele e ficou de castigo.
De madrugada, a luz do luar invadia a janela e clareava a cama de Mortis, que se encontrava acordado. Não conseguia dormir. Em sua mente vozes ecoavam e sussurravam diversas coisas...

As pessoas te crucifixão pela sua diferença...
Pisam em você como um verme...
Te fazem sangrar...
Te fazem chorar...
Isso tem que acabar...
A sua diferença é a sua força...
Para cada gota de seu sangue caída...
Rios de sangue inocente se formaram...
A única saída para o seu sofrimento...
É se fundir com as sombras e o vazio de seu interior...
Vocês serão um...


Mortis estava assustado, então se cobria com seu lençol até a altura de seu nariz. O quarto agora se envolvia numa escuridão profunda. Um frio fez o garoto se encolher e ele se cobriu completamente com seu lençol. O medo tomava conta de seu ser.
Então, ele voltou a escutar a voz, que não estava mais em sua mente, e sim agora em seu quarto. Ele abriu os olhos e viu através do lençol dois brilhos esverdeados no quanto escuro do quarto, e logo a voz disse as últimas palavras da sentença...

O seu treinamento começa hoje...
Aprenderá a canalizar seu ódio e rancor em poder...
Você será como um vulto...
E a última coisa que seus inimigos iram sentir...
Será a sua respiração atrás deles...
E sentiram muito medo...

Os brilhos começam a vir na direção do garoto e logo mais um rosnado de uma besta feroz se faz, fazendo Mortis gritar...
O garoto pula da cama suando, pois acabara de ter um pesadelo horrível. Foi tudo tão real, pensou ele. Ele olhou para a janela, ainda era de madrugada e o luar iluminava a paisagem noturna. Ele se deitou mais uma vez na cama, sem sono e ficou pensando no seu estranho sonho.
O último pensamento do garoto antes de cair mais uma vez no sono foi: “Eu devo me fundir com as sombras e o vazio de meu interior...Seremos um...”
Na parede escura, dois olhos brilhantes observam o garoto.

Luz e Trevas


Prólogo

A sala do trono é iluminada pelas diversas tochas que estão espalhadas pelo recinto. A luminosidade faz as pedras avermelhadas que revestem a sala ficarem reluzentes. No centro da sala se encontra um grande trono feito de ossos e pedras preciosas. Sentado nele um temido tirano aguarda a vinda de um visitante. As grossas cortinas vermelhas se movem e logo esvoaçam, deixando entrar um forte vento que apaga metade das tochas da sala. A parte esquerda do salão fica mergulhada na escuridão e agora uma presença maligna se esconde nas sombras.
O tirano diz com um tom de sarcasmo: ”Da próxima vez bata na porta.”
Dois brilhos esverdeados surgem no meio das sombras, parecendo ser os olhos da criatura. Ela diz: ”Porque mandou me chamar?”
Tirano: ”A primeira etapa do nosso plano acaba de se concretizar. A criança nasceu.”
Criatura: ”Perfeito. Daqui em diante, deixe o resto comigo. Guiarei os passos desse menino, para que no futuro ele faça o que nasceu para fazer...matar.”
O tirano estampa um sorriso diabólico em sua face, relevando seus dentes pontiagudos.
Enquanto isso, no bairro de classe media na cidade capital do reinado chamada de Sirius, pode-se escutar o grito de uma criança que acaba de nascer em casa. Fazia uma noite tempestuosa nesse dia. O grito da criança se abafou ao ser pego pelo pai. Os lençóis da cama estavam encharcados de sangue. O parto havia sido muito complicado e agora a mãe estava perdendo muito sangue. Ela se encontrava chorando e estava muito debilitada. Seu marido estava de costas para ela segurando seu filho no colo. Ela com dificuldade ergue sua mão e diz numa voz meio rouca: ”Amor, eu acho que eu não irei resistir por muito tempo. Deixe-me passar esses últimos momentos...com o...meu ama..do...filho...”
O homem ainda fica de costas para sua mulher. Um pequeno sorriso se faz no rosto do homem e depois de alguns segundos ele sai caminhando para fora do quarto com o bebe.
A mulher começa a chorar mais e não entende o porquê daquilo, mas logo tem o seu sofrimento interrompido com a morte.
O homem desce as escadas e logo vai para a sala de estar, onde se encontra um homem encapuzado. O pai se ajoelha perante o homem encapuzado e estende a criança para ele. A criança é pega por uma garra coberta por pelos negros. Em seus dedos, unhas que poderiam cortar até mesmo aço.
O bebe começa a chorar. A face do individuo se esconde na escuridão, então dois brilhos esverdeados surgem. O bebe para de chorar e olha para os olhos da criatura, curioso.
A criatura sussurra para ele: ”Não é você que deve chorar meu pequeno, e sim aqueles que se meterem no seu caminho.“
A criatura devolve a criança para os braços do pai e logo diz: ”Que a segunda etapa seja iniciada agora.”
O pai ainda de joelhos diz:”Sim, senhor. Senhor, como devo nomear essa criança?”
A criatura se vira de costas e começa a caminhar para uma parede imersa em sombras, e diz:”Ele deve se chamar...Mortis.”
Depois disso ele da mais um passo e entra na parede escura, desaparecendo.
O pai olha para o filho e diz:”Seja bem vindo, Mortis. Teremos muito trabalho pela frente, então não temos tempo a perder.”