quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Capítulo 1 - Infância Sombria

Nove anos se passaram desde a trágica noite do nascimento de Mortis. Ele se tornara um garoto forte e inteligente. Morava com seu pai e não sabia quase nada sobre sua mãe. Seu pai o tratava com frieza e algumas vezes, com certo desprezo. Mortis era uma criança diferente. Tantos seus olhos quanto o seu cabelo liso que agora estava na altura do ombro eram vermelhos. Seu pai possuía cabelo e olhos pretos e sua mãe era loira. Seu pai dizia que ele era especial, por isso era diferente das outras crianças, mas isso não respondia as dúvidas do garoto. Certo dia, seu pai estava na sala lendo jornal e Mortis foi se aproximando devagar até chegar à frente de seu pai. O homem baixou um pouco o jornal e o encarou, logo dizendo: ”O que você quer?”
Mortis: “Pai, como a mamãe morreu?”
Pai: “De novo você me pergunta isso? Eu já disse milhares de vezes. Ela morreu de uma doença muito grave.”
Mortis: “Pai, você acha que ela iria gostar de mim?”
O homem dobra seu jornal e coloca uma mão no ombro do filho, o encarando de uma maneira ainda mais profunda que a anterior. Então, diz: “Ela não ia gostar de você!”
Mortis agora ficando com lágrima nos olhos abaixa o rosto e diz: “Porque papai?”
Homem: “Porque para ela você foi apenas um acidente e nada mais. Bem, agora que já respondi suas perguntas, vai fazer seus deveres de casa.”
As lágrimas escorrem pelo rosto do garoto que se retira para o seu quarto.
Os dias se passaram e nada melhorou na vida do pobre garoto. Em sua escola, as crianças zombavam dele e muitas vezes o batiam por ele ser diferente e em casa nunca tinha a atenção de seu pai, que na maioria das vezes estava bêbado, ou caso contrário apenas dizia palavras que o desanimava ainda mais.
As aulas terminaram e ele voltava para casa a pé. Virando a esquina se depara com dois rapazes de 13 anos cada, antigos conhecidos do garoto. Eram Robert e Jason, dois garotos que tinham como passa tempo caçoar e bater em Mortis. O garoto tenta mudar o caminho mas Jason já coloca a mão do ombro dele, dizendo: “Porque a pressa amigo. Até parece que não quer falar conosco.”
Mortis: “Eu esqueci uma coisa minha na escola e...”
Robert: “Serio! Deixa-me conferir se está faltando alguma coisa mesmo.”
Robert agarra a mala de Mortis e com força a arranca do garoto, e logo despeja seu material no chão.
Jason agora segura fortemente os braços do garoto, chegando ao ponto de machucá-lo.
Robert pega algumas moedas que caíram da mochila e coloca em seu bolso e da um sorriso para Mortis.
Jason solta o garoto e diz: “Valeu otário.”
Os dois garotos saem andando e rindo pela rua. Mortis começa a recolher seu material observando os dois garotos. Uma raiva fervorosa toma conta de seu ser. Seus olhos ficam lacrimejados de tamanha fúria. Ele aperta sua mão fortemente ao ponto de tremer. A face serena do garoto transformasse num rosto que transmite extremo ódio e rancor.
Logo os garotos somem de sua visão e aos poucos ele se acalma, mas logo se espanta. Há sangue em seus cadernos e em sua roupa e logo percebe que suas mãos estavam sangrando. Apertara sua mão a tal ponto de suas unhas cravarem em sua pele. Ele recolhe rápido o resto do material e sai correndo desesperado para casa.
Há dois quarteirões dali, Robert e Jason se deparam com o pai de Mortis.
O homem vem até eles e diz: “Vocês atormentam meu filho todo o dia, ao ponto de fazê-lo chorar de vez em quando. Ele os odeia.”
Robert e Jason param e olham para o homem, preparados para correr. Jason meio apreensivo diz: “Quem é seu filho senhor?”
Homem: “Mortis.”
Robert: “Senhor, é que...”
Homem: “Não diga mais nada! Vamos conversar como homens aqui. Iremos fazer um acordo.”
Jason: “Acordo?! Que tipo de acordo?”
O homem pega um saco de couro pequeno e joga para Robert, que o segura de maneira desajeitada. Ele desamarra o saco e olha, e logo se surpreende. Ele estende a mão e despeja moedas que estavam dentro do saco dado pelo pai de Mortis.
Os garotos olham o homem, que agora está com um sorriso no rosto.
Ele diz: “Nunca ganharam nada por atormentá-lo. Agora, pagarei a vocês para fazerem isso. Tirem ele do sério, batem nele, humilhem-no e tudo que seja necessário para tirá-lo do sério. Pagarei vocês todo o mês. Acham que podem fazer isso?”
Robert e Jason olham um para o outro sem acreditar naquela proposta indecente e logo apertam a mão do homem, fechando o trato.
Dia após dia, Mortis era perseguido e espancado pelos garotos. Diversos hematomas em todo o seu corpo e um corte em sua sobrancelha feito por um soco dado por Robert, fazia escorrer sangue pelo rosto do garoto. Mortis tinha sido levado até uma viela pelos garotos e se encontrava agora no chão, gemendo de dor e sangrando. A situação nunca chegara a tal ponto de fazer o pequeno garoto sangrar e isso deixava Jason um pouco preocupado.
Robert foi chutar Mortis no chão, mas foi interrompido por Jason, que disse: “Hei cara, vai com calma. Ele ta sangrando. Está bom por hoje, vamos embora agora.”
Robert: “Qual o seu problema, Jason? Ta com dó dele, é? A gente tem um trabalho pra fazer aqui, então não me interrompa!”
Jason: “Ele já está bem machucado. Espera ele se recuperar disso, ai outro dia a gente pega ele de novo. Não vai fazer loucura cara.”
Robert empurrou Jason para o lado e disse: “Se não vai ajudar, não me atrapalhe então. Cai fora!”
Jason olhou para Mortis, que o observava com o rosto úmido de sangue. Jason sentiu remorso ao olhar para o garoto, mas não iria mais participar daquilo. O garoto se vira e sai correndo da viela, deixando Robert ir além com aquela crueldade.
Robert se vira para olhar se ninguém estaria observando o que se passaria logo adiante. Quando se volta para Mortis, se espanta ao ver o menino de pé, com a cabeça baixa. Gostas de sangue caiam de seu queixo.
Robert diz num tom irônico: “Fico surpreso que ainda consiga ficar de pé depois de ter apanhado tudo o que você apanhou. Mas aproveite esses momentos, porque você voltará para o chão.”
Robert avança na direção de Mortis, então este diz: “Acha engraçado me fazer sofrer?”
Robert para sua investida com o punho erguido para responder a pergunta do garoto. Ele responde: “Moleque, você é uma aberração. Você não é normal, então não merece ser tratado como alguém normal. Irei te bater até você sair da escola e se mudar desse bairro. Você é uma vergonha. Por isso, se você não se mudar, você vai sofrer, entendeu?!”
Mortis: “Então, eu sou uma aberração.Eu não sou uma criança normal e nunca vou ser. Papai sempre disse isso pra mim.”
Mortis começou a chorar agora. As lágrimas se misturaram com o sangue, formando um elo de dor e sofrimento. Robert olhou para a fraqueza do garoto, e logo perdeu o ânimo de bater nele. No fundo, estava com dó do garoto, mas não podia demonstrar fraqueza. O garoto se virou e saiu caminhando, então disse: “Amanhã a gente se vê.”
Mortis ficou mais alguns minutos lá na viela chorando. Depois se levantou e voltou para casa. Chegando lá, teve que escutar seu pai gritar com ele, brigando por ter deixado os garotos terem batido nele e ficou de castigo.
De madrugada, a luz do luar invadia a janela e clareava a cama de Mortis, que se encontrava acordado. Não conseguia dormir. Em sua mente vozes ecoavam e sussurravam diversas coisas...

As pessoas te crucifixão pela sua diferença...
Pisam em você como um verme...
Te fazem sangrar...
Te fazem chorar...
Isso tem que acabar...
A sua diferença é a sua força...
Para cada gota de seu sangue caída...
Rios de sangue inocente se formaram...
A única saída para o seu sofrimento...
É se fundir com as sombras e o vazio de seu interior...
Vocês serão um...


Mortis estava assustado, então se cobria com seu lençol até a altura de seu nariz. O quarto agora se envolvia numa escuridão profunda. Um frio fez o garoto se encolher e ele se cobriu completamente com seu lençol. O medo tomava conta de seu ser.
Então, ele voltou a escutar a voz, que não estava mais em sua mente, e sim agora em seu quarto. Ele abriu os olhos e viu através do lençol dois brilhos esverdeados no quanto escuro do quarto, e logo a voz disse as últimas palavras da sentença...

O seu treinamento começa hoje...
Aprenderá a canalizar seu ódio e rancor em poder...
Você será como um vulto...
E a última coisa que seus inimigos iram sentir...
Será a sua respiração atrás deles...
E sentiram muito medo...

Os brilhos começam a vir na direção do garoto e logo mais um rosnado de uma besta feroz se faz, fazendo Mortis gritar...
O garoto pula da cama suando, pois acabara de ter um pesadelo horrível. Foi tudo tão real, pensou ele. Ele olhou para a janela, ainda era de madrugada e o luar iluminava a paisagem noturna. Ele se deitou mais uma vez na cama, sem sono e ficou pensando no seu estranho sonho.
O último pensamento do garoto antes de cair mais uma vez no sono foi: “Eu devo me fundir com as sombras e o vazio de meu interior...Seremos um...”
Na parede escura, dois olhos brilhantes observam o garoto.

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